Foram testes um tanto quanto estranhos, envoltos em uma situação totalmente incomum para o esporte. A chegada de um conflito armado de um país como a Rússia, com forte influência sobre uma das equipes do grid, criou uma atmosfera totalmente diferente no paddock, e por diversos momentos a atenção esteve mais voltada para o que estava acontecendo fora do asfalto catalão.
O último dia não trouxe muitas conclusões, mas mostrou a verdadeira cara das equipes. Como era a despedida antes de viajar para Bahrein, os times colocaram um pouco mais de potência nos carros para ver como estes poderiam realmente funcionar. Com um novo regulamento e muito a ser descoberto, ficou um pouco mais claro quais escuderias podem mostrar boa confiabilidade e quais terão de trabalhar duro na fábrica para evitar mais problemas nas próximas semanas.
Sem dúvida, a sensação geral ao redor do paddock é de que a Fórmula 1 poderia ter um quarteto na frente do grid. Não podemos confiar cegamente durante estes três dias de testes, mas tudo parece indicar que Mercedes, Red Bull, Ferrari e McLaren têm os carros mais competitivos. Ou, pelo menos, os que mostraram mais potencial e confiabilidade durante esses dias de abertura. As surpresas são possíveis, diante de uma das pré-temporadas mais incertas dos últimos anos, mas essa é a sensação deixada de quarta-feira até esta sexta.
A Mercedes dominou o dia com uma dobradinha. Lewis Hamilton baixou os tempos a cada volta à tarde e fez 1min19s138, a melhor marca de toda a semana, batendo por 0s095 o registro feito de manhã pelo novo companheiro de equipe, George Russell. Ambos foram os únicos a realizarem simulações de volta rápida nos compostos mais macios da linha da Pirelli, enquanto a Red Bull foi um pouco mais reservada. Ainda assim, a escuderia austríaca chegou muito perto dos tempos da rival, com Sergio Pérez em terceiro e Max Verstappen em quarto.
A sexta-feira, no entanto, foi surpreendente por causa da enorme diferença entre os times. Por um lado, equipes como Mercedes, Red Bull, Ferrari e McLaren fizeram quilometragem brutal ao longo do dia, especialmente no final da tarde. Elas demonstraram, sem dúvida, que têm a confiabilidade e o potencial para se colocarem como referência nesta temporada. Essas sensações ainda precisam ser traduzidas em resultados, mas será preciso esperar até os trabalhos no Bahrein, dos dias 10 a 12 de março. Até agora, as coisas têm dado certo para o quarteto.
Outra escuderia que se destacou positivamente e surpreendeu foi a Williams. Ninguém esperava nada do time de Grove, e eles não surpreenderam com um design radical ou inovador, mas se saíram bem melhor do que outras equipes que tinham expectativas mais altas. A Williams fez os deveres de casa, levou o carro para a pista, rodou bastante durante os três dias e saiu com a sensação de que manter-se no pelotão intermediário pode ser uma meta plausível para esta temporada. Já se foi a época de problemas e até mesmo ausências nos primeiros dias da pré-temporada de anos atrás.
No entanto, tivemos hoje vários lados negativos. O principal, é claro, foi a Alpine. A equipe de Fernando Alonso e Esteban Ocon parecia estar indo bem nos dois primeiros dias, fazendo um bom trabalho que ajudará a entender o carro. Entretanto, a sensação foi de que quiseram aumentar a potência do motor, anotar tempos mais competitivos do que há alguns dias, e as coisas não correram conforme o planejado. O piloto espanhol teve de parar devido a um problema hidráulico que resultou em uma grande quantidade de fumaça saindo do carro. Uma imagem que lembra fantasmas do passado do bicampeão, dos tempos de dores de cabeça pela McLaren-Honda.
Não há motivo para alarme pelo fracasso de hoje, que, na verdade, impediu o time francês de dar mais voltas durante todo o dia. A sexta-feira perdida não é uma boa notícia, nem o fato de que o motor poderia sofrer com o aumento da potência. Ainda assim, convém esperar e ver como a Alpine se apresenta nos próximos testes no Bahrein. É quando o veredicto será proferido. Os franceses não parecem estar prontos para competir na parte da frente do grid, mas não há necessidade de fazer soar os alarmes de que tudo está errado. Veremos mudanças, com certeza, e a equipe poderá entender melhor os problemas pelos quais passou nos últimos dias para chegar mais forte em Sakhir e tentar mudar a situação.
Quem não deixou de sofrer um instante sequer foi a Alfa Romeo. A sensação é de que tudo está atrasado, que a escuderia não chegou a tempo para esta pré-temporada. Desempenho muito fraco, muito pouco tempo de pista e muito a ser feito. Neste momento, pode-se pensar no time ítalo-suíço fechando o grid, mas ainda é muito cedo para fazer julgamentos. A equipe precisa encontrar a fonte de todas essas falhas e achar o equilíbrio entre potência e confiabilidade para, pelo menos, correr e acumular quilômetros nos próximos testes. Guanyu Zhou precisa disso urgentemente, depois de ter andado muito pouco em seus primeiros dias na F1, enquanto Bottas precisa dar tudo de si para liderar a equipe e não deixá-la cair.
A Haas foi a protagonista do dia com um carro todo branco e sem qualquer traço russo. A invasão da Rússia à Ucrânia teve um enorme impacto sobre a equipe, que pode perder seu principal patrocinador e, como consequência, o piloto que fornece o dinheiro para permanecer no grid. A situação pode piorar, o que é uma pena, porque a escuderia americana parecia preparar um carro mais competitivo do que o do ano passado.
Teremos de acompanhar de perto como a situação evolui e que medidas a Haas tomará para permanecer na categoria. A perspectiva da equipe pode mudar radicalmente já no Bahrein, em duas semanas, onde poderia ter novas cores e até um novo piloto titular - Pietro Fittipaldi seria o primeiro a receber uma ligação, segundo o chefe de equipe Guenther Steiner. Mazepin deu poucas voltas - que podem ter sido suas últimas na categoria - antes de um vazamento no carro o tirar de combate durante todo o dia.
Finalmente, em um campo totalmente discreto e despercebido, temos AlphaTauri e Aston Martin. Duas equipes de médio porte lutando para subir na hierarquia do grid e que parecem ter um bom carro, além de ferramentas suficientemente poderosas para se saírem bem nesta temporada. As duas trabalharam muito durante os três dias e tiveram alguns problemas para resolver, mas nada sério. Hoje, ambas perderam toda a tarde em Barcelona: Stroll não pôde sequer sair devido a um vazamento no final da manhã, e Gasly sofreu o único acidente da semana antes do intervalo para o almoço. Dia discreto, mas com a sensação de que, corrigindo os problemas encontrados, elas ainda podem ter muito a dizer.
A Fórmula 1 deixa Barcelona nesta sexta-feira. A próxima parada será no Bahrein para o segundo teste de pré-temporada, de 10 a 12 de março, uma semana antes do início da temporada, também em Sakhir. As equipes tiveram um primeiro contato emocionante, com muito a descobrir e muito trabalho a fazer nas fábricas. Tudo ainda é incerto, e parece que ninguém conseguiu tirar todo o potencial de seus carros. Essa tarefa será deixada para o Oriente Médio, onde terão a oportunidade de melhorar e terminar de entender os novos equipamentos para a temporada 2022.
Do Portal Terra
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