Zagueiro do Bahia, que enfrentou o Fortaleza na semifinal da Copa do Nordeste, Luiz Otávio não tem uma trajetória nada comum. Antes de desembarcar em Salvador, ele precisou vencer a pobreza e trabalhou em um lixão para ajudar no sustento de casa.
"Eu sou de uma família humilde da Baixada Fluminense e tenho mais 10 irmãos. Desde garoto tinha o sonho de ser jogador de futebol. Fiz testes em vários clubes como Audax-RJ e Artsul-RJ, mas não tive sucesso. Fui aprovado em uma peneira no Fluminense e fiquei três meses nas categorias de base antes de ser dispensado", disse ao ESPN.com.br, em 2017.
Quando tinha 17 anos, Luiz Otávio foi tentar a sorte no Ferroviário-CE por incentivo de um empresário e ficou hospedado em uma pousada, em Fortaleza.
"Um dia, o empresário me disse que iria a São Paulo e voltaria algum tempo depois. Mentira. Ele me abandonou na pousada e ainda deixou uma dívida de R$ 4 mil. Os donos foram me procurar no clube para saber sobre o empresário", contou.
Para piorar, com o sumiço do agente e a demissão de um diretor conhecido dele, Luiz foi dispensado pelo clube.
"Eu não sabia o que fazer, estava sem um real no bolso e não tinha cartão de crédito. Não tinha para onde ir ou como voltar para minha casa. Só me restava trabalhar nessa pousada para poder ter onde dormir e o que comer".
"Durante os quatro meses seguintes eu arrumava quartos, limpava piscinas e atendia a portaria do estabelecimento. De vez em quando eles me compravam um marmitex, mas na maioria das vezes eu comia os restos da pousada, incluindo pão mofado. Eu tirava o mofo com a faca e comia", contou.
A situação mudou quando um hóspede, que trabalhava como tatuador, estava viajando pelo Brasil e durante uma conversa soube da história do jovem.
"Ele me deu R$ 300 para comprar a passagem de volta para minha casa e ainda fez uma tatuagem de graça. Nunca mais o vi depois, mas o gesto dele mudou a minha vida. Queria um dia poder reencontrá-lo e poder agradecer", afirmou.
Luiz conseguiu comprar uma passagem de avião para o Rio que sairia em duas semanas. Ele precisou usar o cartão de crédito dos donos da pousada e permaneceu trabalhando até o dia de ir embora.
De volta ao Rio, ele defendeu São Cristóvão e Bangu, no qual se profissionalizou na equipe principal. "Cheguei até mesmo jogar de centroavante com o técnico Cleimar Rocha. Em 2013, fui emprestado ao Bonsucesso e subimos para Série A do Carioca. No ano seguinte, conseguimos manter o time na elite", contou.
Após o Estadual, ele recebeu uma proposta do Luverdense, mas o time não queria liberá-lo. O zagueiro precisou entrar na Justiça porque estava com salários atrasados.
"Como estava impedido de jogar por causa do processo, eu precisei me virar. Já estava casado e precisava ajudar a sustentar minha família. Um amigo meu arrumou um terreno e trabalhávamos em um lixão separando material reciclável para vender. Era muito duro e a grana mal dava para sustentar minha família, mas eu recebi muita força", afirmou.
Após conseguir a liberação, o defensor assinou com o Luverdense, em 2015. Após se destacar pela equipe de Lucas do Rio Verde, ele foi contratado pela Chapecoense, em 2017.
Após ser emprestado para Mirassol e Botafogo-SP, ele foi um dos grandes destaques da Chape no título da Série B de 2020. No começo da temporada, o zagueiro chegou ao Bahia.
Do Blog Yan Levi Anjos/Fonte:Portal ESPN/Foto: Felipe Oliveira / EC Bahia
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